quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
o céu de Duas Pipas no azul
O dia hoje passou muito lentamente, mas pelo menos tinha aquele gosto ansioso de saber que te veria ao fim da noite. Nesta alegria atento, tudo quanto era aborrecimento se tornava pequeno no estender-se das horas, no esticar da tarde e das ideias que alimentavam-se das lembranças tão vivas, diferentes sorrisos nos mesmos dentes, olhares, peles; personalidades.
De repente a chuva umedeceu a atmosfera e aveludou os barulhos nervosos da noite urbanóide. E foi então que soube que a contagem regressiva seria acrescida de mais 24 horas. A chuva passou mas não o sentimento de urgência e tranquilidade numa só explosão de emoções que me preenchiam no vazio deste longo dia caótico.
Frequentemente tenho que me confrontar e enfrentar sentimentos e emoções alheias, sofrendo dores que não minhas, alimentando esperanças que não de sonhos meus, e fica este vazio de não ter vivido em presença tua minhas próprias emoções e esperanças que naturalmente sinto o dom de só cuntigo compartilhar perfeitamente feliz.
A madrugada avança lentamente, entre um e outro pingo de chuva isolado, neste silêncio de urbem, sempre vibrando algum sussurro metálico longíncuo. E refletindo sobre todo este labirinto arquitetônico fico imaginando você aí, deitando no travesseiro com os olhos na imaginação, e tento te causar sorrisos mesmo daqui, deste outro cubículo de concreto no meio da vasta bagunça da engenharia urbana que ao mesmo tempo nos separa e nos une.
Cheiro de maresia entra pela janela e traz consigo as memórias ensolaradas de dias de surf e glória, onde o tempo pode enfim deixar de existir e dá a possibilidade para o infinito acontecer à eternos mortais que somos. Que é tudo isso que aprendemos? Como sentir o mundo pode estar tão intrínsecamente relacionado com construí-lo? Sinto que sente, mesmo sepaparados pela louca geometria dos espaços sinto o teu sentir tão genuinamente semelhante ao meu, e isso se comprova nas pequenas-imensas sintonias do dia-a-dia, coincidências deliciosas em telefonemas e mensagens de texto em circuntâncias tão precisas.
A vontade de viver mais e mais com você não me deixa dormir por estes instantes de agora, mas me infla de um relaxamento quase meditativo que me incentiva a ficar pensando e repensando profundas questões da existência. Quero descortinar minha alma e ter coragem de deixá-la, mais que somente ver, experimentar um voô por todo o horizonte de seus sonhos mais simples e portanto despretenciosamente sofisticados, como duas pipas à abraçar suas linhas no vasto azul de um céu nítidamente nosso.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Cada estar
Estou convictamente vivendo no agora porque nenhuma máscara pode mais vestir minhas alegrias vivas. Estou feliz e é diferente viver o presente de acreditar simplesmente nele. Percebo sutilmente, passo à passo, que a cada instante compreendo e pratico cada vez mais o simplesmente viver as coisas sem precisar pensar tanto sobre elas, seja antes ou depois, estou focado naquelas alegrias que estão vivas no agora.
E me permitindo ao outro vou entrando cada vez mais em mim. Quanto mais participo de um encontrar-se alheio mais me encontro, me conheço. Estou feliz com toda minha história, feliz com meus sonhos e previsões, estou feliz em ter claro tudo aquilo que quero neste momento, e mais ainda de já ter tudo isso.
Mas acima de tudo estou grato. Quando está caindo a chuva ou fazendo aquele sol, quando coincidencias deliciosas fazem eu simplesmente agradecer com imensos sorrisos as sortes que me cercam, quando desço uma onda e vejo um par de gaivotas no céu, quando recebo o abraço gelado mais quente da minha vida numa tarde fria e acalentadora, quando sinto ser observado na mesma essência que observo certo olhar, bem de pertinho, força iminente.
Quando ao oferecer um primeiro beijo descubro vagarosa e intensamente que é meu primeiro beijo também. Estou grato em tantos momentos, que gratidão soa até como um meio de vida, muito mais como um ato. Estou tão exatamente onde eu gostaria de estar. É um momento inesquecível a imensa experiência de abundância ao se saber e sentir plenamente vivo e corajosamente estregue aos mais luxuosos sonhos de infinito.
Quero continuar assim, um eu mesmo totalmente natural de si, e para isso estou mudando a cada instante de vida, guiando e acompanhando ao mesmo tempo, vou aproveitando com o peito aberto de alegrias cada sorriso que recebo, cada alegria expontânea, cada frase solta mais linda que me faz elevar os humores à máxima potência desprevenidamente, cada novidade que conquisto, cada fração de segundo numa troca intensa de olhares, cada beijo inesquecível que faz o mundo girar de ponta à cabeça, cada cheiro, cada toque e gesto e intenção, cada estar... assim, apaixonado, apaixonado por viver.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Plenitude Sensorial
Estou tão feliz que quero registrar isso de algum jeito que tem semanas eu procuro sem encontrar. E não me adianta relatar os fatos porque serão simples demais, nem tãopouco me adianta poetizar extraordináriamente porque o que venho vivendo tem sido de uma perfeição de clareza que é bem possível que seja impossível definir toda esta conjuntura existencial com meros recursos linguísticos. Para ser entendido neste momento precisaria pegar cuidadosamente em suas mãos e transmitir com os meus olhos o inefável entusiasmo que vem tomando conta da minha vida. Será possível viver essa intenção somente pela aventurosa tentativa de transmissão do inefável através das pobres palavras, tão distantes da essência do que tento explicar? Tente imaginar se puder, porque é o que, ou o como eu sinceramente gostaria de poder transmitir neste momento, este falar bem de perto na cumplicidade da música em meus olhos.
A felicidade que venho criando e recriando e recebendo e vivendo e repassando me enche de uns sentimentos encantados e tais que só mesmo o misterioso enigma da palavra Amor pode vestir para tentar representar. Eu sei que é óbvio demais isso tudo, falado assim, mas acredite, são as palavras que complicam tudo isto. Porque ao mesmo tempo que é simples e óbvio que se esteja feliz ao se encontrar neste estado de simples amando, amante universal do existir, é também fantástico e mágico quando se compreende com exatidão os caminhos e pequenas-grandes decições que levaram-me à alcançar este viver o que se sonha e esse sonhar o que se vive, num processo de mútua alimentação infinita_mente contínua e prolongada de ambas atividades, uma decorrendo indefinidamente na outra.
Mas será que convém explicar passo à passo cada caminho a que me levo ou elevo à este conhecimento que me liberta fazendo-me capaz de criar minha própria felicidade? Tudo me parece tão óbvio agora, e reconheço a importância serena da paciência, do saber-se muito bem que a direção é infinitamente mais importante que a velocidade. Porque quando a direção é precisamente desejada e encontrada, o tempo perde completamente este sentido narrativo...
Muitas vezes não faz sentido eu continuar esta prosa porque sei que a maior parte do que quero expressar já está provavelmente escrito em algum lugar, seja numa outra língua e cultura, seja onde for, mas tudo que venho aprendendo graças à existência das palavras, como sou grato e ingrato ao mesmo tempo. Porque gratidão seria eu então reproduzir mais e mais idéias através das palavras, mas é fundamental o silêncio muitas e muitas vezes ao longo das experiências de vida.
Muitas vezes é preciso calar-se para que se faça ser entendido depois. Mas não estou mais seguindo nas explicações que eu inicialmente gostaria de esclarecer por aqui... Talvez seja mesmo impossível, mas por isso mesmo me vejo tentado a querer acreditar que vou conseguir, não me pergunte como. Porque a inspiração que bateu à minha porta esta manhã nasceu dentro de mim mesmo, toda a manhã eu vivi, quando o sol surgiu fui eu quem amanheceu... Esta inspiração saltou pela janela enquanto eu dormia e voltou ainda mais incrível quando com meus olhos a admirar a existência azul do dia que se iniciava pude voar com os pés no chão. O que quero dizer é que tanto a inspiração quanto a felicidade e este entusiasmo inefável que parecem me 'invadir' de repente são na realidade originais de mim mesmo, assim como toda [óbvia] concepção de universo que tenho. Sim, todo o universo que conheço vem de mim mesmo. Sim, estou me chamando de Deus ao dizer que crio meu próprio universo. Afinal de contas se Deus está em tudo sou todo Deus. E se o homem foi "criado à semelhança de seu criador" me parece natural que o ser humano seja, assim como o arquetipicamente retratado "Deus criador de todo o universo", o criador nato de sua própria realidade.
Teísmos à parte tenho a profunda certeza de que tudo o que vivemos fora anteriormente concebido por meio das emoções que intrínsecamente se manifestam em comunhão com a viva coletividade do planeta.
O que sentimos é tão forte, tem tamanha força nossa sensorialidade em acordo com nossos sonhos mais emocionantes... Se para algumas aves o magnetismo da Terra é a maneira de se guiarem para os caminhos que almejam, para o ser humano ocorre o mesmo, com a ligeira diferença que o magnetismo do humano está nas próprias emoções. E é isso que eu queria inicialmente sublinhar: devemos sentir o que sonhamos para vivermos plenamente aquilo em que acreditamos e é simples assim.
Uirá Felipe
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